O etarismo é a discriminação, preconceito ou estereotipagem contra pessoas com base em sua idade. Pode se manifestar de forma sutil, em piadas ou comentários, ou de maneira explícita, na exclusão e marginalização de quem não se enquadra em determinados padrões etários.
No mundo gay, essa realidade merece ainda mais atenção. Outro dia, ouvi em uma roda de jovens: “O cara é mó coroa, tem 30 anos”. A mesa estava cheia de pessoas entre 20 e 30 anos — e já se falava de alguém de 30 como “descartado”. Em outro momento, em uma academia, fui chamado de forma pejorativa de “tio”.
Esses episódios não são isolados. Basta observar convites, sites e campanhas de festas da comunidade: quase sempre, corpos jovens, esculturais, sem espaço para quem passou dos 30. É como se houvesse uma “vida útil” estipulada para ser gay, como se depois de uma década de juventude viesse o descarte.
Dados que não podem ser ignorados
Reflexões necessárias
Será que não percebemos a contradição? Lutamos contra a exclusão por sermos gays, mas dentro da nossa própria comunidade reproduzimos exclusões etárias.
A juventude, o corpo perfeito, a eterna performance de vitalidade — tudo isso se tornou moeda de valor. Mas a que preço? Quantos deixamos de lado quando atingem uma idade que todos nós inevitavelmente chegaremos?
E mais: quando o primeiro amor já foi roubado pela exclusão da infância, quando a juventude foi vivida em segredo e o afeto só pôde aparecer tardiamente, será justo que, aos 30, 40 ou 50, alguém já seja considerado “velho demais”?
O que está em jogo
Ao naturalizar o etarismo, alimentamos uma cultura de ansiedade, superficialidade e solidão. Enfraquecemos laços, diminuímos nossa própria rede de apoio e repetimos a violência que sempre nos feriu.
A vida adulta e a maturidade deveriam ser tempos de plenitude, de celebração das conquistas e de vivência plena do amor e da afetividade. Em vez disso, muitos se sentem “descartados” e empurrados para os cantos invisíveis da comunidade.
Um convite à consciência
Aos 57 anos, digo com serenidade: estou feliz, pleno, realizado. Mas sei que muitos não chegam aqui da mesma forma. Muitos carregam a sensação de terem sido excluídos — primeiro pela sociedade, depois pela própria comunidade que deveria acolhê-los.
Não, isso não é normal. Não deveria ser.
A pergunta que deixo é simples, mas profunda:
👉 Você é quem exclui ou quem inclui?